Bom dia

Tabata Clarissa de Morais
2 min readJun 18, 2021

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Juliana entrou no quarto bagunçado. E se sentiria mais confortável não fosse pela ausência de suas plantas pela casa, jarros e terra sem plantas. Cátia dormia em sua inocência entre lençóis e roupas e cadernos e livros. Onde estava a samambaia e jiboias de seu quarto? Cátia. Cátia resmungava ante o chamado. Cátia. Puxou pela perna e levou um coice, caindo no chão. Cátia, caralho. Eeeei, bom dia, Juuuu. Juliana olhava séria para a amiga sem noção. Que cara horrorosa, Ju. Cátia, Cátia, eu passei poucos dias fora, o que você fez com minha casa? Como assim, Ju? O cheiro subia pelo quarto, era um cheiro morno, doce, em putrefação. Ela foi até a janela e abriu toda, ofegante. Você falou para eu não mexer nos seus livros, eu segui todas as suas instruções, a estante está igual. Ju se impacientou. Também falei para cuidar das plantas. A casa está de cabeça para baixo e não tem sinal de vida aqui. Onde estão? Cátia gargalhou alto. E eu, Ju? Não sou vida? Juliana balançou a cabeça, não podia ser. Olhou debaixo da cama, dentro do guarda-roupa, controlando-se para não falar nada, flagrando embalagens de comida sujas e sua maquiagem bagunçada. Que chatice, você, sei nem o que dizer. Sua viagem foi ruim? Isso são modos de chegar. Respirava fundo, foi até o banheiro. Nada. Apenas mais bagunça. Pela casa ressoavam seus passos que ficavam cada vez mais duros, não mais que os músculos de sua face. Cátia levantou-se, vestiu-se sem pressa, levantou os cabelos deslizantes de sua face para prendê-los num meio coque. Juliana andou por toda a casa sem horta, sem plantas, e já sem muda de árvore, e parou diante de sua amiga. Cátia apenas sorriu, doce e lentamente, quase sedutora. Um pequeno pedaço verde cedia entre os dentes. Juliana aproximou o dedo dos dentes de Cátia. Cátia ganiu e fingiu morder, ria-se, ria-se das preocupações da amiga. Comi. A mão de Juliana, que estava parada no ar, chegou a tremer, tocando descontrolada no rosto de Cátia. Cátia tomou-lhe a mão, deu-lhe um beijo olhando fixo em seus olhos e foi embora, deixando atrás de si três ou quatro folhinhas verdes, pequenas, vibrantes, de samambaia — que caiam suavemente de suas vestes.

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